ALLEN GINSBERG
Abril é o mês em que a comunidade radical da poética mundial celebra a morte de Allan Ginsberg. Dizem que o reconhecimento a um poeta concentra-se mais na imagética do que na poeticidade. Será verdade? Ginsberg era inimitável, em atitude e na quebra paradigmáticas. Se Vinicius foi um poeta que viveu no limite da boêmia, Ginsberg foi o poeta que viveu no limite da quebra das correntes. “Arranquem portas e janelas para ouvirem o meu uivo!”
Allen Ginsberg foi uma criança tímida, dominada pelos estranhos e assustadores episódios de sua mãe, uma mulher completamente paranóica, que não acreditava no mundo. Do seu lado, Allen lutava para compreender a luxúria que o queimava por dentro. Na escola secundária, descobriu a poesia e a atração pelos meninos de sua idade; ao ingressar na Universidade de Columbia, fez amizade com um grupo de jovens delinquentes, filósofos de almas selvagens, entre eles Jack Kerouac, obcecados igualmente por drogas, sexo e literatura. “Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura!”
Ao mesmo tempo em que ajudava os amigos a desenvolver os seus talentos literários, Allen perdia de vez a sua ingenuidade, experimentando drogas, freqüentando bares gays em Greenwich Village e vivendo seus affairs homossexuais. Assumindo um estilo de vida bizarro, como se procurasse em si mesmo a face da loucura de sua mãe, Ginsberg acabou em tratamento psiquiátrico. Aos 29 anos, já tinha escrito muita poesia, mas quase nada publicado. Ganhou popularidade a partir de 1955, com o seu poema Howl, considerado por muitos, obsceno e pornográfico. Howl foi seguido por vários outros poemas importantes, como Kaddish, onde ele faz uma espécie de auto-exorcismo, escrevendo sobre a loucura e morte de sua mãe. Por esse período, Ginsberg viaja pelo mundo, descobre o budismo e se apaixona por Peter Orlovsky, que seria seu companheiro por 30 anos, embora sua relação não fosse monógama. No início dos anos 60, a celebridade cresce, no entanto, ele se lança na cena hippie, ajuda Thimoty Leary a divulgar o psicodélico LSD e participa de uma lista incrivelmente grande de eventos, como o Human Be-In, em 1967, em San Francisco. Allen induz a multidão a cantar o mantra OM, imitado, em seguida, pelos Beatles, na canção Across the universe. Ginsberg é também figura-chave nos protestos contra a guerra do Vietnã, na Convenção do Partido Democrático de Chicago, em 1968. Após conhecer o guru tibetano Rinpoche, aceita-o, prontamente, como seu guru pessoal. Depois, juntamente com a poeta Anne Waldman, cria uma escola de poesia. Sempre participando de eventos multiculturais, manteve sua agenda social ativa até a sua morte, em 5 de abril de 1997, em Nova Iorque.
Ginsberg tinha muitos fãs,entre eles Jim Morrison, do grupo The Doors. Morrison era tão viciado nas poesias e obras dele que dizia escrever suas músicas após ter lido algum de seus poemas. Sabe-se que Ginsberg e a banda The Clash eram fãs recíprocos. O poeta fez uma participação especial na música Ghetto Defendant, e cantou, ao lado de Joe Strummer, trechos de um de seus poemas. Ginsberg não sendo único, é no minimo histórico. Histórico porque cada obra é escrita em determinada circunstância, em determinado contexto; nem que seja para negar ou transformar esses contextos em valores, ideologias, linguagem e organização da sociedade. Não só por isso. Ginsberg também fez história, pela influencia sobre outros autores, reaparecendo em seus textos, produzindo ideologia, produzindo percepção e representação do mundo. Se a consciencia, a sociedade e o mundo são produtos de linguagem, então a operação feita pelo poema, a criação e a transformação da linguagem são transformações do real ou consciencia da realidade. A civilização grega o foi, de Homero; a romana o foi, de Virgilio; bem como a cultura lusófona o foi de Camões.
Ao se refletir sobre sua passagem, aqui na terra, ficamos com a impressão de que Allen Ginsberg foi, não apenas, o poeta norte-americano de maior prestigio da segunda metade do século XX, foi também, o grande rebelde, romântico, anarquista, contemporâneo, lider de uma geração que fez despontar Kerouac, Burroughs, Corso, Ferlinghetti, Snyder, entre outros. Fez revolução na linguagem e nos valores literários que se transformaram em rebelião coletiva, dentro da série de acontecimentos revolucionários, essência da Geração Beat, década de 50, e da contracultura e rebelião juvenis dos anos 60 e 70.
Allen Ginsberg foi um poeta de atitudes, portanto.
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