O CONTO é uma narrativa curta, um texto em prosa que dá o seu recado em reduzido número de páginas, linhas ou palavras. Sua maior qualidade técnica é a concisão e sua grande eficácia o impacto. Este é um efeito que tanto pode resultar da natureza insólita do que foi contado, da feição surpreendente do episódio ou do modo como foi contado. Concisão e impacto, porém, não podem comprometer a qualidade do texto, cuja relação com o leitor deve ter a mesma competência dos contos mais longos.
Do prisma de sua história e de sua essência, o conto é a matriz da novela e do romance, e isto não significa que ele deva, necessariamente, transformar-se em romance ou novela. Como a novela e o romance, o conto é irreversível. Trata-se, pois, de uma narrativa unívoca, univalente. Constitui uma unidade, uma célula dramática. Portanto, contém somente uma unidade, de conflito, de drama e de ação.
Todos os ingredientes do conto levam a um mesmo objetivo, convergem para o mesmo ponto. Assim, a existência dum único conflito, duma única “história” está intimamente relacionada a essa concentração de efeitos e de pormenores. O conto aborrece as digressões, as divagações, os excessos. Ao contrário, exige que todos os seus componentes estejam galvanizados numa única direção e ao redor dum só drama. Esteja enxuto.
Quanto a esse objetivo exclusivo para o qual deve tender a fabulação, podemos compreendê-lo considerando o seguinte: a soma dos objetivos, parciais e absolutos, que vamos tendo pela vida a fora, poderia dar uma série de pequenos dramas. A unidade de ação condiciona as demais características do conto. Assim, a noção de espaço é a primeira que cabe examinar. O lugar geográfico, por onde as personagens circulam é sempre de âmbito restrito; à noção de espaço, segue-se imediatamente a de tempo; e aqui também se observa igual unidade.
Com efeito, os acontecimentos narrados não se podem dar em espaço longo de tempo, já que não interessam o passado e o futuro: as coisas se passam em horas, ou dias. Sendo duradouro, pode se trata de um embrião de romance ou novela; ou o longo tempo referido aparece na forma de síntese dramática, pois esta envolve, habitualmente, o passado da personagem.
O conto caracteriza-se por ser objetivo, atual; vai diretamente ao ponto, sem deter-se em pormenores secundários. Essa objetividade salta aos olhos com as três unidades: de ação, lugar e tempo. Tratando-se das personagens, poucas são as que intervêm como decorrência natural das características apontadas, as unidades de ação, tempo e espaço.
Só não parece possível o conto com uma única personagem. Ainda que uma só apareça, uma ou mais figuras devem estar atuando direta ou indiretamente, ou vir a atuar na formulação do conflito de que nasce a história. A linguagem em que o conto é vazado também deve ser objetiva, plástica e utilizar metáforas de curto espectro, de imediata compreensão para o leitor; despede-se de abstração e de toda preocupação pelo rendilhado ou pelos esoterismos.
O conto quer-se narrado em linguagem direta, concreta, objetiva. Dentre os componentes da linguagem, o diálogo, sendo o mais importante de todos, merece ser referido em primeiro lugar. O conto por seu estofo eminentemente dramático, deve ser, tanto quanto possível dialogado. De acordo com as diferentes formas que se apresentam os contos, ou seja, a proporção interna em que serão trabalhadas as unidades, podemos definir cinco tipos de contos: o conto de ação – onde predomina basicamente a aventura, o que não significa a ausência total dos demais componentes. É um tipo de conto linear e menos importante do que os outros, embora seja quantitativamente mais freqüente;
O conto de personagem – este é menos comum e totalmente centrado no exame da personagem, mas nunca deixando de obedecer a conjuntura própria do conto, visando sua unidade;
O conto de cenário é raro. A tônica dramática transfere-se para o espaço, para o ambiente. Este se torna praticamente o herói;
O conto de idéia – embora o escritor se utilize de personagens, conflito, etc., serve para mostrar uma visão de mundo: é um instrumento da idéia que pretende transmitir;
O conto de emoção tem o objetivo de transmitir uma emoção ao leitor; geralmente vem mesclado ao da idéia.
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