segunda-feira, 6 de julho de 2009


O SOLITÁRIO BEAT, JACK KEROUAC
Allen Ginsberg e Jack Kerouac foram amigos, poetas que lideraram os beatniks, um movimento de jovens intelectuais que delinqüiram uma geração de adeptos. Ocorre que, nem tudo que Kerouac e Guinsberg pensaram, viveram ou escreveram carregava-se no principio ácido da verve beat. Desde a postura filosófica à concepção religiosa o mito da influência ou da escola se esvai. Por exemplo, Ginsberg tinha aversão à mãe, enquanto que Kerouac endeusava a sua. Se Ginsberg incorporou-se à boemia em sua tenra juventude, Kerouac dedicou-a ao esporte: foi jogador de futebol com bolsa de estudos na Universidade de Columbia. Ginsberg afrontava enquanto Kerouac afinava.
Kerouac começou a escrever um romance falando sobre os tormentos que sofria para equilibrar a vida selvagem da cidade com os seus valores do velho mundo. Um fracasso de venda. Aconselhado por Neal Cassady, um amigo dos tempos de Columbia, ele passou a viajar de costa a costa, americana. Ainda era bastante jovem e as surpreendentes viagens, em companhia desse amigo, resultou “On the road”. JK experimentando formas mais livres e espontâneas de escrever, contando as suas viagens exatamente como elas tinham acontecido, sem parar para pensar ou formular frases. Durante esse período, ele escreveria, não só este, mas, vários romances, os quais carregava na mochila, enquanto vagava de um lado a outro do país.
O manuscrito de “On the road” ainda sofreria sete anos de rejeição até ser publicado; porém, ao chegar às livrarias, se transformou em seu primeiro grande romance, comercialmente. Kerouac tornou-se uma celebridade entre os jovens, que ainda sofria com a desconfiança da crítica e dos editores. Até voltar a publicar novamente, ele pegou a sua vida e recolheu-a no esquecimento; na pacata rotina dos casamentos. Em 1957, quando Allen Ginsberg e outros escritores de sua categoria começaram a celebrizar-se como a "Geração Beat" (termo que o próprio Kerouac criara anos antes), os editores manifestaram interesse pelos seus manuscritos, publicando, finalmente, "Pé Na Estrada", que se tornou um estrondoso sucesso popular; não de crítica. De repente, Kerouac foi surpreendido, ao viver o papel de jovem ícone beat para o público, porém, amargado pelos cânones da rejeição, ele não soube como reagir. Os críticos literários continuaram refutando sua literatura; chegaram a ridicularizar o seu trabalho, ferindo-o profundamente. Ao adquirir uma fama não programada, JK passa por um declínio moral e espiritual. Tentando viver a imagem selvagem que tinha apresentado em "Pé Na Estrada", entregou-se ao alcoolismo, o que apagou o seu brilho natural e o envelheceu prematuramente. Seus amigos viam-no como uma pessoa carente e instável.
Percebendo o fracassa, vivendo solitário, retorna a Long Island, onde volta a viver com a mãe. Aos poucos, tenta retirar da mochila os livros escritos na estrada; o problema é que lhe faltava um editor, e os trabalhos exibiam uma alma desconectada, de um ser humano perdido em ilusões. Apesar do estereótipo de beatnik, Kerouac era um conservador, especialmente sob a influência de sua mãe católica. Frequentemente apaixonado, ele chegou a casar duas vezes ao longo da vida, mas ambos os matrimônios acabaram em pouco tempo. Na metade dos anos 60, ele casa-se novamente, agora com uma velha conhecida de infância. Após o casamento, pega a mãe e a esposa e vão morar em St. Petersburg, na Flórida, onde morreria em 21 de outubro de 1969, aos 47 anos, destruído pela bebida.
Procurando informações que confirmassem dados de memória para um texto sobre os 50 anos do livro On The Road, descobrimos que a Viking Press ainda vende 100 mil cópias do livro todos os anos. Quantos garotos e meninas arrumando a mochila com meia-dúzia de trocados, lançam-se à estrada, pegando carona com caminhoneiros, bem ou mal intencionados, em busca tão-somente da experiência de partir?... A praia, para esses jovens, é apenas questão de dias, ou semanas; dormir ou comer mal são contingências que os levarão à última carona ou ao fim da força da aventura. Quantos americanos cruzando a fronteira com o México, dormindo no teto de automóveis em meio aos insetos, suportando um calor inacreditável e esperando pela noite em que tudo acontecerá se espelhou no ideal de Kerouac?... Quantos guris ainda saem do Rio Grande do Sul de carona, em direção às praias paradisíacas do Nordeste, viajando durante semanas, até que tudo se dê, até o primeiro albergue ou à primeira transa?... On the road inspirou o filme Easy Rider, que lançou ao estrelato Peter Fonda e Jack Nicholson.
Se Kerouac não tivesse quebrado a perna, quando era um expoente do futebol americano, na Universidade de Columbia, como seriam os beatniks, os hippies, os desbundados dos quatro cantos do mundo? Se ele ficasse em seu canto, uma estrela local do esporte americano, nós viveríamos a era dos milagres?... Foram-se os dias do sossega-leão; os tarados estão na pior; os ousados trapezistas quebraram as vértebras. Era de maravilhas, quando os cientistas, em cumplicidade com os sumos sacerdotes do Pentágono, ensinam de graça a técnica da destruição mútua, porém total. Progresso, pois sim! Faz disso um romance legível, se conseguir. Mas não me vem reclamar das misturas de vida com literatura direitinha e limpa – sem lixo radioativo. Que falem os poetas. Eles são beat, mas não são os donos da bomba. Pode crer: não tem nada limpo, nada saudável, nada promissor nessa nossa era de maravilhas – é só cantá-la. E a última palavra, provavelmente, vai ser dos Kerouac da vida.” O texto supra é de Guinsberg. Kerouac, mesmo, disse o seguinte: “Daqui a mil anos, se houver História
os Estados Unidos serão lembrados como um paisinho antipático cheio de panacas, espinhenta rosa de estufa cultivada por jardineiros covardes.”
Morrendo prematuramente, Jack Kerouac ficou no entremeio do anjo torto com o bad boy. Dizem seus biografistas que o verdadeiro Kerouac ainda está contido nos livros ainda não publicados, nos quais desvendou seus sentimentos mais recônditos; seu eu mais real, mais honesto e filosófico. Segundo consta, tais escritos datam dos seus 25 aos 32 anos, retratando o artista quando jovem; período crucial e vida intrépida do romancista por acontecer.
Enquanto não temos acesso a essa alma cativa, resta-nos aquilo que veio ao nosso conhecimento, ao conhecimento universal: um jovem como tantos outros, com idéias, medos e dúvidas; repletas inocências juvenis e a incansável busca pela mulher de sua vida; a luta para amadurecer e fazer sentido em um mundo de pecados. Tenho para mim que a crítica não duvidava das intenções de um jovem beatnik, ao repudiar o seu lado católico, exacerbado. Ela não queria era justamente esse tipo de manifestação polida brotada de uma geração que veio para arrebentar os costumes. O problema é que, ao ignorar o religioso, esqueceu-se do artista sincero que viveu buscando sua própria voz.
Carlos Kahê

Um comentário:

Minimal. disse...

ei, depois desse post, vou adicionar o blog aos meus favoritos vc querendo ou nao rsrsrsrs
:)